domingo, 14 de julho de 2019

Do latim, amar.


Nós éramos sílabas destoantes, Zé.
Eu sempre tônica, oxítona, paroxítona, proparoxítona.
Ele, átono. Monossilábico.
Ainda assim, tínhamos o que eu jamais tive com outra pessoa.
Éramos rima do mesmo verso.
Métrica perfeita, rima maior, dodecassílabos.
Ele me lia como ninguém.
E eu nunca fui capaz de fazer o mesmo.
Nem com ele, nem comigo.
Faltava nexo, coesão.
Não havia coerência nos fatos.
Eu prometi uma espera, mas já sabia no segundo seguinte que ela não aconteceria.
Hoje somos hiatos, distantes, longínquos.
Queria mesmo ser ditongo aberto, daqueles que enchem o peito e a alma.
Sem barbarismo, assonância, aliteração.
Sem a cacofonia da vida.
Queria o pretérito mais-que-perfeito.
Mas ele nunca veio.
Sobrou-me o futuro do pretérito que ficou para trás e esse vazio que ninguém sabe ler.

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